23/10/2008
SENADORES PREFEREM OCUPAR POSTOS DE CONFIANÇA DO QUE SUBSTITUÍ-LOS POR SERVIDORES
Mergulhado na crise do combate ao nepotismo, o Senado revela uma situação, no mínimo, preocupante: um excesso de cargos de confiança, enquanto há mais de mil vagas vazias que deveriam ser preenchidas por concurso público.
Segundo a Secretaria de Recursos Humanos da Casa, há pelo menos 1.085 cargos de carreira vazios, sendo 472 só de analista legislativo. O Senado emprega hoje 3.390 servidores efetivos, um número semelhante ao de funcionários de confiança, aqueles que chegam por indicação: 3.096, sendo que destes, 3.002 só nos gabinetes de senadores.
O preenchimento das vagas por concurso público depende de uma decisão política e administrativa. O argumento para manter o atual cenário é a falta de recursos financeiros. Há também um velho problema: a dificuldade em convencer os senadores a substituir os cargos comissionados por funcionários de carreira. Falta vontade política para trocar os assessores indicados por servidores efetivos que chegam por mérito.
São gastos, anualmente, cerca de R$ 132 milhões somente com a folha de pagamento dos cargos de livre nomeação. Teoricamente, cada parlamentar pode empregar 11 pessoas que não prestaram concurso com salários que variam R$ 952 a R$ 10,8 mil. O regimento permite, no entanto, a divisão dessas vagas em outras mais, reduzindo os respectivos salários, mas aumentando o número de funcionários. É o milagre da multiplicação.
Um dado curioso: de acordo com a Secretaria de Recursos Humanos, há somente 16 vagas vazias nas funções de confiança, todas de motoristas. Mas nenhum senador fica a pé: alguns desses cargos são preenchidos por empresas terceirizadas, entre elas a Conservo, acusada pelo Ministério Público Federal de fraudar a licitação e declarada inidônea segunda-feira pela Controladoria-Geral da União (CGU). (leia mais na página 5)
Há até mesmo parentes de diretores nomeados para dirigir carros, como foi o caso de Rosemary Braga Lima. Até a última segunda-feira, ela era lotada como motorista da liderança do PT. Perdeu o cargo porque é ligada ao diretor da Secretaria de Transportes do Senado.
Limitação
Procurado pelo Correio, o diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, alegou dificuldade orçamentária para preencher as vagas efetivas que estão vazias. A Casa, segundo ele, tem solicitado recursos para a realização de mais concursos públicos, mas o Executivo tem cortado a verba todos os anos. O que, explica, ocorreu no caso da prova que ocorrerá em novembro. “O Senado em sua proposta pediu R$ 25 milhões para a realização do concurso de 2008. O Executivo cortou 50% do solicitado, reduzindo a quantidade de vagas do concurso de 2008 para apenas 150 em vez de 300. Para 2009, solicitamos R$ 50 milhões, que permitirão um concurso para 600 vagas”, disse.
Esses postos, porém, substituirão serviços terceirizados. Por enquanto, os cargos de confiança continuam intocáveis. Segundo o diretor-geral, apesar desse cenário, o Senado tem conseguido reduzir o gasto com a folha de pagamento. “O Senado é o único órgão público no Brasil que gastou menos com pessoal em 2007, comparado com 2006. A Casa realizou cortes de despesas em 2007, nas aquisições e contratações de terceirizados que resultaram em uma economia orçamentária de R$ 152 milhões”, diz Maia. “Os atuais servidores efetivos se esforçam para suprir a ausência dos cargos vagos.”
Correio Braziliense