Os debates do 1º dia do Encontro Nacional de Controle Externo em Mobilidade Urbana (EnceMob), promovido pela Escola de Contas do Tribunal de Contas do Distrito Federal, trataram de temas atuais de interesse público, como o monitoramento dos ônibus do transporte público coletivo em tempo real.
A palestra “Centros de controle operacional no transporte coletivo: quais os benefícios à fiscalização dos serviços e aos usuários?” abordou o controle das informações fornecidas pelas empresas contratadas para atuar no Sistema de Transporte Público Coletivo durante o deslocamento dos veículos que atendem a população. Mediado pelo auditor de controle externo do TCDF, David Araújo, o painel reuniu especialistas e gestores públicos que são referência no assunto.
O gerente de Controle de Operações de Transportes da Superintendência de Mobilidade de Belo Horizonte (Sumob), Gustavo Fonseca de Oliveira, dividiu com os presentes a experiência mineira com o serviço de monitoramento do transporte público coletivo. “Nosso programa localiza em tempo real onde cada veículo está. Se há algum problema mecânico ou elétrico conseguimos fazer o reparo rapidamente ou enviar um veículo extra ao local. Essa ferramenta ainda permite verificar se o veículo está cumprindo o itinerário.”
Segundo Gustavo Fonseca, faz 20 anos que a capital mineira aderiu ao monitoramento realizado pelos Centros de Controle de Operações (CCO). E, desde 2013, todas as linhas de ônibus do transporte coletivo urbano são fiscalizadas pelos CCOs. Segundo o gerente, o sistema também possibilita ao usuário saber exatamente quanto tempo falta para o ônibus chegar ao local que ele está. Alguns pontos de ônibus contam com painéis instalados com essa informação. Já nas paradas em que não há painéis, o usuário pode consultar o aplicativo SIU Mobile que traz essa e outras informações.
Os serviços de monitoramento aliados às inovações tecnológicas também foram defendidos pelo subsecretário de Políticas para Cidades e Transporte de Goiás, Miguel Pricinote. Segundo ele, os contratos de concessão já devem prever inovações de tecnologia e inteligência artificial para a prestação de serviços de transporte. “Precisamos melhorar os contratos de concessão, e prever essas questões de inteligência neles. Num futuro próximo, não haverá mais motorista, assim como em muitos lugares não há mais cobradores. Precisamos estar preparados para essa realidade”, enfatizou.
Já o diretor de Planejamento de Transportes da Secretaria de Mobilidade de Salvador (BA), Diogo Pires, citou alterações instantâneas feitas com base nas imagens das câmeras nos terminais do BRT para disponibilizar mais ônibus na capital baiana quando detectado um aumento súbito de demanda.
Pires também ressaltou a importância de manter um canal de comunicação com o usuário. Na capital baiana, os veículos de transporte contam com um QR Code para que a população possa opinar sobre os serviços. “Nosso usuário pode avaliar numericamente itens específicos sobre o transporte e ainda deixar opinião, sugestão e reclamação. Esse canal permite avaliar como algumas coisas são percebidas positiva ou negativamente pelos usuários”, relatou.
A apresentação “Eletrificação das frotas de ônibus urbanos: como fazer uma transição sustentável no Brasil?”, mediada pelo auditor de Controle Externo do TCDF Carlos Coutinho, focou nos benefícios e desafios da implementação de sistemas de transporte coletivo inteligentes e sustentáveis.
Segundo o consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) Sérgio Avelleda, a substituição de um ônibus a diesel por um elétrico equivaleria a plantar 1200 árvores. Para ele, além da questão da sustentabilidade, o transporte público é fundamental para o desenvolvimento econômico das cidades. “É mais barato se locomover de transporte público quando nós melhoramos o acesso nas cidades. E, com isso, nós melhoramos a economia das cidades”, defendeu.
Já a diretora executiva do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), Clarisse Linke, abordou as várias questões envolvidas no processo de eletrificação dos ônibus de transporte coletivo. Segundo ela, a medida deve ser amplamente discutida a fim de verificar sua viabilidade nos bairros e cidades mais carentes. “É preciso analisar o investimento nessa estrutura de eletricidade nos diversos territórios, nas áreas mais periféricas, para garantir que a população periférica seja beneficiada por esse investimento. Não faria sentido ficar apenas eletrificando as áreas centrais, onde a maior parte da população rica vive. Não adianta olhar apenas para as questões ambientais e não olhar para as questões sociais”, alertou.
Por fim, a subsecretaria de Gestão da Secretaria Municipal de Transportes da cidade do Rio de Janeiro, Luciana Fernandes, alertou sobre a urgência de priorizar os investimentos no serviço de transporte coletivo. “É fundamental, urgente e necessário que o transporte público seja priorizado. E nesse sentido, o papel do poder público é essencial para estimular processos e a cadeia produtiva, além da geração de economia e fomento de melhor qualidade para as cidades”, enfatizou.